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Porque é que o chocolate da Páscoa está tão caro?

Na Páscoa deste ano, os consumidores vão pagar mais pelo chocolate. O aumento do preço do cacau, que tem sofrido quebras na produção, está na origem desta subida, revela a DECO PROteste.

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Foto Shutterstock

Este ano, os doces da Páscoa poderão ter um sabor mais amargo para os consumidores. Além das alterações climáticas e das pragas e doenças que, em 2024, afectaram a produção de cacau em países como o Gana e a Costa do Marfim – que, em conjunto, são responsáveis por cerca de 60% da produção mundial de cacau –, o aumento dos preços pagos aos produtores fez disparar o valor desta matéria-prima e, consequentemente, o preço dos chocolates em todo o mundo.

E, ao que tudo indica, é provável que os preços se mantenham elevados ao longo de 2025. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), só entre Dezembro de 2024 e Janeiro de 2025, o preço do chocolate subiu 9,87% em Portugal.

Saiba quanto custa agora um conjunto de quatro chocolates cujo preço é monitorizado pela DECO PROteste.

Chocolate fica 26% mais caro em três meses

Este aumento é confirmado também pelos dados da DECO PROteste, que, nos primeiros três meses de 2025 verificou um aumento de 26% no preço de uma cesta com quatro chocolates à venda nos supermercados em Portugal: uma tablete de chocolate de leite de marca própria, uma tablete de chocolate de leite da Milka, uma tablete de chocolate para culinária de marca própria e uma tablete de chocolate para culinária da Pantagruel. Entre 1 de Janeiro e 26 de Março, estes quatro chocolates aumentaram 2,06 euros, para um total de 10,09 euros.

Para determinar o preço médio destes produtos, a organização de defesa do consumidor analisou, todas as quartas-feiras, os preços destes chocolates nos principais supermercados com lojas online em que estes estão disponíveis. Depois, com base nesses dados, calculou o preço médio de cada um.

Nos últimos três meses, o chocolate cujo preço mais aumentou foi o chocolate para culinária da Pantagruel, com uma subida de 44%, de 2,84 euros para 4,09 euros. A tablete de chocolate de leite da Milka aumentou 27%, de 1,82 euros para 2,30 euros, e o chocolate para culinária de marca própria aumentou 16%, de 2,26 euros para 2,62 euros. O chocolate de leite de marca própria foi o único desta cesta cujo preço desceu neste período (menos 3%), embora apenas alguns cêntimos, de 1,11 euros para 1,08 euros.

2024 foi o ano em que o chocolate mais encareceu

Apesar de os preços terem aumentado significativamente nos primeiros meses de 2025, foi no ano 2024 que o preço do chocolate mais aumentou: 41 por cento. Na primeira semana de 2024, estas quatro tabletes de chocolate custavam 5,67 euros. Na primeira semana de 2025, o preço do mesmo conjunto de chocolates já tinha subido para 8,02 euros, ou seja, mais 2,35 euros.

O chocolate para culinária de marca própria foi aquele cujo preço mais aumentou neste período, passando de um preço médio de 1,30 euros para 2,26 euros (mais 74 por cento). O preço do chocolate de leite da marca dos supermercados subiu 49%, para 1,11 euros, o preço do chocolate para culinária da Pantagruel aumentou 42%, para 2,84 euros, e o preço do chocolate de leite da Milka subiu 11%, para 1,82 euros.

Preço do chocolate subiu 11% em 2022 e 2023

Entre a primeira semana de 2022, quando a DECO PROteste começou a monitorizar o preço destes produtos, e 4 de Janeiro de 2023, o preço total destes quatro chocolates aumentou apenas 52 cêntimos (mais 11%), para 5,13 euros. Nesse ano, os maiores aumentos registaram-se nos chocolates de leite: 20% no chocolate de leite da Milka e 18% no chocolate de leite da marca dos supermercados. Os chocolates para culinária da Pantagruel e de marca própria, por sua vez, aumentaram 5% e 6%, respectivamente. Já em 2023, ano que foi marcado por uma elevada taxa de inflação em Portugal, com aumentos de preço significativos em praticamente todos os bens alimentares, o preço destes quatro chocolates aumentou quase o mesmo que no ano anterior (55 cêntimos), com a cesta dos quatro chocolates a passar de um total de 5,13 euros, a 4 de Janeiro desse ano, para 5,67 euros um ano depois. O preço do chocolate para culinária de marca própria foi o que mais aumentou nesse ano (19 por cento). O chocolate de leite da Milka, por outro lado, terminou o ano a custar praticamente o mesmo que custava no início do ano.

Preços das marcas dos supermercados foram os que mais aumentaram

Contas feitas, em três anos  – entre 5 de Janeiro de 2022 e 26 de Março de 2025 –, estes quatro chocolates aumentaram 119%, de 4,61 euros para 10,09 euros. Os chocolates para culinária foram os que registaram as maiores subidas percentuais de preço. No entanto, tanto nos chocolates de leite como nos de culinária, as maiores subidas de preço registaram-se nos produtos das marcas dos supermercados.

No chocolate de leite de marca própria, a subida de preço chegou aos 96%, de 55 cêntimos para 1,08 euros. Já no chocolate de culinária de marca própria, o aumento foi de 155%, de 1,03 euros para 2,62 euros. Por outro lado, o preço do chocolate de leite da Milka aumentou 68%, de 1,37 euros para 2,30 euros, e o chocolate de culinária da Pantagruel aumentou 146%, de 1,66 euros para 4,09 euros.

Chocolate Milka está mais caro, mas quantidade diminuiu

Outro detalhe importante que poderá ter escapado a muitos consumidores é que, à semelhança do que a DECO PROteste já tinha detectado também em 2022 e 2023 noutros produtos, há um caso de reduflação num destes chocolates. A tablete de chocolate de leite da Milka passou de 100 gramas para 90 gramas. Isto significa que, além de este chocolate estar mais caro, o consumidor está, na verdade, a pagar mais por uma menor quantidade de produto.

Reduzir a quantidade de produto nas embalagens mantendo ou aumentando o preço é uma estratégia de várias marcas, sobretudo em períodos de inflação ou de aumento do custo das matérias-primas. A prática não é fraude, desde que a informação que consta do rótulo do produto e da etiqueta do preço esteja correcta. No entanto, pode induzir os consumidores em erro. A DECO PROteste tem defendido a necessidade de maior transparência para que este tipo de práticas se torne mais perceptível para os consumidores. A redução da quantidade ou alteração de ingredientes do produto mantendo o preço deve ser claramente comunicada pelas marcas para que os consumidores percebam, de forma transparente, o que estão efectivamente a comprar.

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